EDITORIAL

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Augusto Mateus
Augusto Mateus
Presidente do Júri

Reinventar o imobiliário na reinvenção do crescimento económico

A economia portuguesa vai percorrendo um longo e complexo caminho de recuperação depois de um duro ajustamento financeiro.

Nos últimos anos, as famílias e as empresas portuguesas enfrentaram significativas dificuldades.

Hoje vivem com menos, compram melhor, estão mais conscientes da importância decisiva da produtividade e da eficiência na criação de valor, prestam muito mais atenção aos mercados globais e começam a subir os primeiros degraus no sentido de um novo e diferente modelo de crescimento económico.

A atual conjuntura económica e financeira europeia e internacional comportam, também, melhorias relevantes para enfrentar os desafios estruturais que continuam por resolver na economia portuguesa, sejam eles os da reforma do Estado em direção à sustentabilidade das finanças públicas, a um modelo social compatível com o envelhecimento da população e a uma regulação concorrencial dos mercados estrategicamente eficaz, sejam eles os do aumento da competitividade com base em numa especialização de atividades e numa organização empresarial onde a produção de bens e serviços se integra fortemente sob o impulso do conhecimento e da inovação.

O novo ciclo de fundos estruturais e de investimento europeus moldados pelo Acordo de Parceria 2014-2020 constituem, novamente, uma alavanca que pode ou não ser aproveitada para servir aquelas soluções ou para reforçar e perpetuar os problemas. Não basta aceder a meios de financiamento, é decisivo saber o que fazer com eles, nomeadamente como usá-los para dar eficiência ao Estado e competitividade às empresas.

O caminho só pode ser o de privilegiar o que é exigente e tem futuro, isto é, o de mobilizar os fundos estruturais de forma rigorosa e transparente, orientando a sua aplicação em função dos resultados a alcançar e não dos destinatários a satisfazer.

O país vai percebendo que tem de assumir um novo tipo de crescimento, muito mais suportado pela mobilização do conhecimento, da cultura e da criatividade como fatores competitivos chave.

O país também vai dando sinais, em muitos terrenos, que sem reformas e mudanças substantivas as tentativas de retorno, com insucesso garantido, ao seu insustentável modelo tradicional, suportado pelo endividamento, virado para o mercado interno, ansiando pela proteção da concorrência, estão ao virar de cada esquina.

O setor imobiliário, no seu sentido mais amplo, bem como o setor das obras públicas, no seu sentido mais moderno de atividades polarizadas pela engenharia, constituem terrenos muito relevantes desta

batalha por um novo modelo económico sustentável e competitivo projetado por uma participação mais ativa e qualificada da economia portuguesa na globalização.

As iniciativas de valorização e promoção do imobiliário, nomeadamente na sua articulação com o mundo da ciência e do conhecimento, só podem, neste quadro, ser mais internacionais e mais civilizacionais, estimulando a racionalidade das decisões, a eficiência na utilização dos recursos e o convívio aberto com a construção de novas soluções para o envelhecimento, para uma vida qualificada nas cidades e para o retorno económico e social dos investimentos em infraestruturas.

O desenvolvimento das cidades confronta-se, hoje, com a aceleração da globalização e com uma fragmentação e desintegração vertical das atividades produtivas à escala mundial sem precedentes, forçando uma enorme reestruturação dos sistemas e modelos de governo onde as realidades nacionais vão perdendo grande parte da sua autonomia no quadro de uma crescente afirmação das realidades infranacionais e supranacionais.

Os territórios singulares, polarizadores de competências e talentos relevantes para as cadeias de valor, para as instituições e para os modos de vida ganharam importância e dinamismo. Assim, as cidades devem converter-se em novos campus de produção de riqueza, onde a cultura, a criatividade e o conhecimento se transformam nos fatores chave de competitividade. Os novos olhares sobre a regeneração urbana, que só o será se juntar a reabilitação física com a revitalização económica e social, e sobre as redes inteligentes, que só o serão se ajudarem a dar maior competitividade às empresas e maior qualidade de vida às populações, devem ser potenciados como alavancas para gerar novos espaços de eficiência coletiva e de partilha ousada de custos e riscos.

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