EDITORIAL

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Ricardo Guimarães
Ricardo Guimarães
Director at Ci

O Prémio André Jordan viabiliza-se pela teimosa visão de que o conhecimento e a investigação devem ser tanto mais valorizados quanto maiores as dificuldades vividas

O Prémio André Jordan nasceu de um desafio lançado em finais de 2008, foi anunciado publicamente em 2009 e teve a primeira entrega de prémios com a Edição de 2010. É portanto um produto do “novo mundo”. Em contraciclo com a pressão liquidatária, afirma-se como um projeto de ligação, de aproximação entre comunidades distintas, chegando à Edição 2012 mais do que duplicando o número de candidaturas e, desde já, lançando um novo ciclo para 2014.

Sendo otimista, podemos esperar que os anos 2008-2014 encerrem um capítulo que terá um lugar na História, sendo recordado pela crise das dívida soberanas. Mesmo num quadro de regresso à normalidade, perdurarão efeitos estruturais que marcarão as décadas seguintes, em diversos patamares chave como seja a construção europeia, o estado social e o funcionamento dos mercados financeiros. Todos pilares e avanços civilizacionais dos quais ninguém deve abdicar, em nome da paz, coesão e crescimento económico, mas que terão de ser aprofundados e redesenhados.

O mercado imobiliário será dos que mais profundamente mudará, invertendo por completo o padrão de atividade que o pôs no centro do furacão, fundado no triângulo construção nova / compra de casa própria / endividamento. Nenhum cenário de estabilização nos mercados financeiros terá subjacente o regresso, de forma mais ou menos intensa, a esse registo. Mas também não basta o seu colapso para que emirja a trilogia sebastianina da reabilitação / arrendamento / poupança (investimento), que com o vértice da sustentabilidade deveria passar a uma tetralogia.

Sem dúvida o futuro não terá como solução o exercício contido do mesmo padrão passado. Dito de outra forma, fazer a mesma coisa, do mesmo modo, só que em escalas menores. É mesmo necessário gizar novos modelos. É por isso que, do meu ponto de vista, fazem tanto sentido as escolhas do Júri do Prémio André Jordan quanto aos trabalhos distinguidos na presente edição.

No caso do estudo sobre os fundos de investimento, há a produção de um resultado muito concreto e extremamente relevante, pois as séries de valorização das unidades de participação dos fundos são reconstruídas diretamente a partir do valor das avaliações feitas aos imóveis (em contrapartida à prática vigente), pondo em evidência o quanto a informação deve estar no centro do mercado, anulando o mais possível todas as assimetrias que podem desvirtuar o seu normal funcionamento. Este é um tópico fulcral, pois a rarefação financeira agudizará o nível de seletividade por parte dos investidores e todas as práticas conservadoras correm o risco de se tornar na maior ameaça para o objeto que se pretendia conservar.

Já quanto à Tese de Doutoramento “Casa e mudança social”, trata-se de um convite a uma inversão completa da forma de planear a promoção imobiliária. A autora faz uma abordagem sociológica e estuda conjuntamente as estruturas familiares e os valores e ideais subjacentes às formas de habitar. Implicitamente, coloca as famílias no centro do processo conceptual, sendo em relação a elas que a oferta se deve moldar, em especial quando estão em causa franjas ou novos submercados fruto de evoluções sociais ou culturais. O produto imobiliário indiferenciado tem um mercado esgotado. Mas não basta diferenciar. É essencial determinar exatamente o segmento a que se dirige e ir de encontro ao seu perfil. Uma consequência prende-se com os estudos de mercado, que tendem a

centrar-se muito na análise da oferta concorrente e a traçar perfis gerais de procura. Doravante, devem dar uma panorâmica geral da concorrência e centrar-se muito nos perfis da procura. Em especial num quadro de tendência para o arrendamento e para o regresso às cidades. Daria para afirmar que no futuro será tão importante ter nas empresas um bom engenheiro como um bom sociólogo!

A entrega dos prémios da Edição 2012 acontece na Sala José Saramago da Biblioteca Municipal Palácio das Galveias, acolhidos pela Câmara Municipal de Lisboa que desde a primeira hora acarinhou esta iniciativa. A sua concretização passa pela disponibilidade generosa e desprendida dos elementos do Júri, sejam os do meio científico, nas pessoas dos Professores Augusto Mateus, José da Silva Costa e José Crespo de Carvalho, ou os do meio profissional, com a participação de Eric van Leuven, Carlos Leira Pinto e Gilberto Jordan. Finalmente, viabiliza-se pela insistente visão do Grupo André Jordan de que o conhecimento e a investigação devem ser tanto mais valorizados quanto maiores as dificuldades vividas.

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