Pode ser que a letra de Carlos Tê, escrita para Rui Veloso em 1987, seja ainda um retrato
de uma parte da maravilhosa cidade do Porto, mas corre sérios riscos de ficar desatualizada
à medida que o tempo passa.
O “velho casario que se estende até ao mar”
está a dar lugar a prédios renovados, principalmente
para habitação e hotelaria, com
uma vasta oferta de restauração de qualidade.
As “pedras sujas e gastas” e os “lampiões
tristes e sós” são cada vez mais passeios reconstruídos
e limpos, assim como os lampiões
estão cada vez mais alegres e acompanhados,
nomeadamente por uma população
nova, vinda de empresas que se instalaram
no Porto nos últimos anos.
O “ar grave e sério” que Rui Veloso cantava
deu lugar a uma cidade vibrante, onde
os edifícios tem sido renovados, destapando
uma beleza e uma classe que já lá estava,
mas que ninguém se tinha dado ao
trabalho de potenciar. O Porto é hoje uma
cidade que recuperou a sua centralidade,
com a Avenida dos Aliados à cabeça, sendo
um destino turístico de excelência para
portugueses e estrangeiros, tendo também
sabido ser capaz de trazer as pessoas de
volta a esse centro, uma condição sine qua
non para o sucesso de qualquer cidade. Se
Carlos Tê escrevesse hoje a mesma letra, de
certeza que trocaria o “jeito fechado” por
esse “jeito aberto”.
E não fica por aqui. A dinâmica empresarial
do Porto, que também sempre lá esteve
(afinal a indústria de Portugal desenvolveu-
-se muito mais no Norte), é agora comple-
mentada com a ocupação de escritórios em
larga escala, vinda de empresas estrangeiras
(e não só), como por exemplo o Natixis, o
BNP Paribas, a Vestas ou a Hostelworld, só
para mencionar algumas. Projetos como a
Lionesa, o Porto Office Park ou o World Trade
Center, atraem grandes empresas e põe o
Porto no radar do mundo das multinacionais
e do imobiliário corporativo europeu. A absorção
de escritórios em 2018 irá ser quase
dez vezes superior ao melhor ano de sempre
anterior à crise e hoje em dia qualquer empresa
que se queira instalar em Portugal tem
o Porto como alternativa a Lisboa.
Para toda esta revolução muito contribuiu
a visão de quem avançou com infraestruturas
como o Aeroporto Francisco Sá Carneiro,
que há alguns anos atrás metia dó de tão
vazio que estava e hoje em dia, logo às primeiras
horas da manhã apresenta um frenesim
próprio de uma metrópole europeia
de primeira linha!
E que bom que é para o País e para o mercado
imobiliário podermos falar não só de
Lisboa, mas também de uma outra cidade
potente e rejuvenescida, com uma vasta
gama de investidores a quererem marcar a
sua presença.
Finalmente uma palavra para a vereação atual
da Câmara Municipal do Porto, pela sua es-
tratégia e aproximação aos players do mercado,
acolhendo o investimento e tentando
encontrar soluções, bem como pela assumida
vontade e coragem de catapultar ainda mais
o Porto na competição mundial de cidades
que se verifica hoje em dia.
O Porto não é mais um “milhafre ferido
na asa”, mas sim uma águia em alto voo.
Eu mudaria o nome da canção para “Porto
Destemido”.