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EDITORIAL

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Vasco Peixoto de Freitas
Vasco Peixoto de Freitas
Prof. Catedrático da FEUP

Custos da reabilitação de edifícios

A reabilitação de edifícios exige uma abordagem diferenciada quando se reabilita de uma forma pouco intrusiva, quando se faz uma reconstrução, ou quando se reabilita a envolvente (fachadas e coberturas) de edifícios de condomínio, ocupados, com estrutura de betão armado

A especificação dos trabalhos e a sua íntima ligação com a forma de os estruturar e fragmentar é crucial para uma correta interpretação do projeto e orçamentação. Na construção nova ou na reconstrução há metodologias clássicas de medição, por diversas artes, que não se adequam à reabilitação pouco intrusiva ou à reabilitação da envolvente dos edifícios de condomínio. Por outro lado, há uma enorme variabilidade de abordagens na reabilitação do património edificado existente, com consequente dispersão dos valores dos custos dos trabalhos dada a ausência de bases de dados coerentes, facilmente utilizadas na prática profissional.

Considero que a estruturação dos trabalhos de reabilitação acima referidos tem de ter por base os elementos de construção, com a desagregação por materiais e componentes, sem esquecer que a pormenorização é decisiva para a qualidade das intervenções e condicionante dos custos. 

O desenvolvimento de custos de referência para os vários elementos de construção em trabalhos de reabilitação, função do nível de qualidade, suportados em resultados estatísticos seria um contributo de grande relevância para promotores, projetistas e entidades financiadoras, desde que esses custos de referência pudessem ter uma atualização dinâmica, que atendesse á evolução do mercado, que nunca é estático.

Deve referir-se que a profunda crise do setor da construção, do passado recente, conduziu a preços demasiado baixos e inaceitáveis, situação agravada pela mudança de paradigma (transição da construção nova para a reabilitação) em que os custos finais eram necessariamente menos controlados, por ausência de experiência de muitos dos atores da construção.

Recentemente, corolário de uma maior dinâmica e da falta de mão-de-obra qualificada e disponível, volta a sentir-se nova perturbação no custo das obras de reabilitação, naturalmente função da conjuntura e da oferta e da procura

É recomendável uma reflexão sobre os custos das obras de reabilitação, que têm uma especificidade própria, muito diferente da construção nova. Justifica-se o desenvolvimento de uma metodologia de quantificação de custos desde a fase de diagnóstico / estudo prévio, sem a qual é muito difícil montar uma operação de reabilitação com um adequado controlo financeiro, o que pode conduzir a uma de duas respostas, ambas indesejáveis: um sobrecusto considerável no final da obra ou à diminuição da qualidade e durabilidade das soluções efetivamente executadas.

O custo da construção, e em particular da reabilitação, depende dos materiais, dos procedimentos e metodologias de construção,mas também de uma mão-de-obra intensa que tem de ter a necessária qualificação e oferta equilibrada. Neste momento, em algumas áreas, não há profissionais qualificados e reconhecidos.

O país deve rapidamente desenvolver um programa de formação de profissionais na área da reabilitação/construção, com o saber manual consolidado suportado no conhecimento, que permita assegurar uma oferta equilibrada, valorizada, mas simultaneamente com maior produtividade para que o custo e a qualidade da construção encontrem um caminho sustentável de desenvolvimento.  

O risco de não planearmos de forma atempada tem conduzido a perturbações e fortes oscilações dos custos da construção, que mesmo aparentemente benéficos, quando a conjuntura é favorável, trazem quase sempre desequilíbrios por não permitirem uma estratégia de continuidade.

A reabilitação é um desafio imenso, mas não tenhamos ilusões só a organização, o conhecimento e a competência conduzirão a dar a resposta que a sociedade deseja e espera dos profissionais, quer do ponto de vista financeiro, quer do ponto de vista técnico.

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